Essa a é a continuação de uma série de posts relatando a minha experiência viajando sozinha na Patagônia. A continuação está linkada ao final desse post ou você pode encontrar clicando aqui.
DIA 17 – LAGUNA TORRE / CERRO TORRE
Decidi parar de preguiça e voltar a ativa haha. Nesse dia acordei, arrumei as coisas e saí para fazer a trilha da Laguna Torre que, teoricamente, avistamos o Cerro Torre. O tempo estava nublado mas não estava chovendo. Depois de alguns dias rodeada de pessoas, fiz a trilha sozinha, foi um daqueles momentos de reflexão, silenciando externamente e me conectando comigo mesma. A natureza ajuda nesse processo. Nos últimos dias eu estava com muitas pessoas, já estava sentindo falta de ficar mais quietinha, então não ter ninguém comigo ali foi ótimo.
A trilha é beeeem mais tranquila e também muito bonita, iniciei as 9h e terminei as 17h, mas fiquei bastante tempo parada, almocei e li um livro durante o trajeto. Nesse dia as nuvens não deram trégua e não consegui ver o Cerro Torre, mas a Laguna é cheia de pedaços de gelo e com um glaciar no fundo, uma paisagem diferente. A água é mais escura do que as outras lagoas que eu tinha visto pela viagem. Como ela é grande e menos popular que o Fitz Roy, pude achar um lugar com menos pessoas e ficar sentada em paz.
Existe um outro mirador contornando essa lagoa caso continue mais um pouco, mas estava ventando muito e quando tentei continuar, quase fui carregada pelo vento. Foi a primeira vez que realmente senti os ventos fortes da Patagônia. Achei que não valia a pena me arriscar, como contei em posts anteriores, já tinha andado bastante na viagem e superado vários limites. Não precisava de mais esse…
Retornei ao Hostel, dei uma boa organizada na minha mala e terminei a noite em um bar com pelo menos 20 brasileiros. É, do nada a cidade lotou de Brasil hahah Parecia que tinha descido um ônibus da CVC e nesse dia vimos até o Reynaldo Gianecchini, que entrou no bar e acho que quando viu aquele monte de brasileiros olhando para ele, saiu rapidinho. Sei que fui dormir lá pelas 3h da manhã, com mais algumas amizades.
DIA 18 – MADRE E HIJA
Depois da noite agitada, levantei por volta das 9h, de ressaca. Eu decidi fazer a trilha da Madre e Hija. Não tinha visto ela em nenhum relato antes de viajar, mas os meninos que estavam em El Chaltén tinham me recomendado muuuito. Essa é uma trilha usada por quem quer fazer Fitz Roy e Cerro Torre no mesmo dia, ou está acampando por lá, mas se for fazer Cerro Torre e Fitz Roy no mesmo dia, se prepare para andar muuuuito. Um casal italiano que conheci no meu quarto estava morrendo no final do dia após fazer isso. Abaixo o mapa para vocês entenderem:
Fiz a rota em azul nesse dia…
Comecei as 11h. Ela começa pela entrada normal do Fitz Roy, ou seja pega toda a subida inicial que eu não tinha feito porque comecei a trilha da Laguna de Los Tres pela Pilar… e anda no total uns 7 kms até encontrar uma bifurcação e virar à esquerda.
Ali começa efetivamente a Madre e Hija. Atravessei mais uns 7km em um caminho diferente e muito bonito. Tem uma floresta mais fechada e as duas grandes lagoas transparentes e lindas. Essa trilha é vazia e ainda assim encontrei um grupo de cariocas do meu hostel hahaha. No total, devo ter cruzado com umas 10/15 pessoas no máximo, e para aquela época e comparado com as outras trilhas, esse é um número bem baixo.
O fim da trilha e a volta são 5km pela Laguna Torre. Andei no total 18km e eu estava beeem cansada do dia anterior, somado com o pouco que eu havia dormido, esse foi o dia que eu menos apreciei estar ali. Estando no 18º dia de viagem, senti dores nas pernas, joelho e pé. O caminho é muito bonito e recomendo para quem, assim como eu, tem bastante tempo em El Chaltén, mas confesso que eu só queria voltar pro hostel e dormir. Hahaha
Por isso, quase não parei e fiz tudo em 6h. O bom é que quando cheguei próximo ao Cerro Torre, o tempo abriu. Se eu não tivesse tão cansada, teria ido até lá perto de novo, mas fiquei satisfeita de ter visto a montanha que faltava e consegui uma foto de longe ao chegar no mirante.
Minha conclusão é que os meninos estavam certos, valeu a pena ter ido até lá, foi uma trilha mais silenciosa e que pude apreciar ainda mais a natureza, ouvir os pássaros, sentir o ar puro, porém eu deveria estar descansada para aproveitar melhor. Ah, recomendo fazer nessa ordem começando pela Trilha da Laguna de los Tres – Madre e Hija – Cerro Torre, pois se fizer o inverso pega umas subidas mais tensas (na minha opinião).
As 17h, de volta ao hostel, fui direto dormir. No fim da noite, acabei no bar novamente com o pessoal de Curitiba que iria embora no dia seguinte. Falando nisso, as despedidas estavam começando, dois meninos que encontrei a maioria dos dias em El Chaltén foram embora e faltando poucos dias para acabar a minha aventura, comecei a sofrer antecipadamente pelo fim. Nesse dia, dois alpinistas da República Tcheca sentaram do nosso lado no bar e começaram a puxar assunto.
Um deles era meio esquisito, não sei se tinha usado alguma droga kkkkk, mas com o outro consegui conversar bastante principalmente sobre as escaladas, eu ainda não tinha trocado ideias com as pessoas que se arriscam nas montanhas, então foi bem legal. Até peguei o Instagram deles e fico acompanhando as subidas nas montanhas que eles fazem o tempo todo.
O pessoal de Curitiba foi dormir, eu fiquei sozinha mais um pouco no bar, sentou um monte de Argentinos na minha mesa, depois conversei com umas francesas e decidi encerrar a noite e descansar. Mais um dia de viagem concluído com sucesso e o fim da minha programação de trilhas em El Chaltén.
DIA 19 – EL CHALTÉN
Depois de dois dias de trilhas seguidos e a viagem chegando ao fim, aproveitei para acordar tarde e descansar o corpo e a mente de tantas emoções que eu fui vivendo ao longo do caminho.
Encontrei as meninas de Floripa que eu tinha conhecido dois dias atrás para almoçar, fomos no restaurante chamado Maffia que já tinha sido bem recomendado para mim. Comi um carbonara maravilhoso com uma taça de vinho, presente de natal dos meus pais que eu finalmente usufrui.
Eu ainda tinha umas cervejas do mercado para acabar, então fomos todas para o meu hostel, montamos quebra cabeça, conversamos, encontramos o pessoal de Curitiba que ainda estava por lá e passamos uma tarde fazendo vários nadas. Tomamos a última cerveja juntos no La Zorra, o clássico happy hour. Despedimos com um “até logo” já que eu ainda ia cruzar com todos uma última vez em El Calafate e/ou no aeroporto.
No fim do dia, eu com a minha dificuldade de aceitar o fim das coisas e querendo aproveitar cada segundo restante em El Chaltén, fui para um date (hahaha já tinha ativado o Tinder de novo porque estava entediada). Nos encontramos no Bourbon que é outro clássico de El Chaltén (onde eu passei o ano novo, lembram?!). Nessa noite tinha um cantor muito bom e apesar de eu estar cansada, acabei ficando até a casa fechar!
Postei até nos stories do instagram @anavoando para quem estava acompanhando, o menino juntava todos os instrumentos e sons na hora, abriu o microfone para o pessoal que quisesse cantar, foi uma noite animada. A conversa rendeu bem, toda hora que eu pensava em ir embora aprendia algo aleatório que me fazia ficar, tipo o sistema de educação da Holanda… mais uma noite na qual eu aprendi coisas de outra cultura, do jeitinho que eu gosto.
Por sorte, eu estava sozinha no quarto do hostel de novo porque o pessoal tinha ido embora, então pude organizar minhas coisas, ligar a luz e deixar a minha mochila pronta para pegar o ônibus no outro dia para El Calafate, as 8h.
DIA 20 – EL CHALTÉN > EL CALAFATE
O dia amanheceu nublado, bem diferente de quando cheguei uma semana antes em El Chaltén e foi com um arco íris que me despedi desse lugar que ficará para sempre marcado na minha história.
Dica: Quem quiser ir direto de El Chaltén para o aeroporto de El Calafate, o ônibus faz uma parada no aeroporto para quem quiser ficar. Eu não sabia disso, por isso acabei deixando essa noite na volta em El Calafate para não correr riscos de perder o voo, mas poderia ter ido direto sem problemas, as meninas de Floripa fizeram isso. Apenas confirmar na hora que comprar a passagem de ônibus.
Cheguei no Folk Suites de El Calafate por volta das 11h, assim que cheguei encontrei um dos meninos que conheci em El Chaltén, acreditam que estávamos inclusive no mesmo quarto? Eu nem imaginava essa possibilidade! Hahaha
Ah, em El Calafate tem o Folk Hostel e o Folk Suites – ambos bons, mas o Hostel foi o meu favorito. O Suites é beeem grande e mais pro centro, não tinha incluso café da manhã na minha reserva e foi bem mais barato. O Hostel fica perto da rodoviária, mas também a uma distância ok do centro e com café incluído.
Dei uma volta pela cidade até a hora do meu check in e quando consegui entrar no quarto dormi um pouco. Quando acordei, fui encontrar o pessoal de Curitiba adivinhem aonde…? La Zorra de El Calafate kkkkk entre encontros, idas e vindas, juntar mais gente aleatoriamente no mesmo lugar e despedir de outras pessoas, foi mais uma noite parecida com as últimas que já contei por aqui. A viagem realmente foi chegando ao fim.
DIA 21 – EL CALAFATE – O FIM DA VIAGEM E VOLTA PARA O BRASIL
Acordei, fiz o check out, deixei minha mochila no hostel e fui passear sozinha.
Na minha última caminhada por El Calafate, fiz o que eu mais amo fazer quando estou viajando: tomei um café da manhã gostoso em uma padaria, segui sem rumo até encontrar o Lago Argentino, agradeci incontáveis vezes por ter tido a oportunidade de viver esses dias lindos, fui até o mercado e lojinhas comprar souvenir e alguns poucos presentes, almocei bem, comi o sorvete da fruta de Calafate e bebi a última cerveja no bar da Patagônia (encontrei o Gianecchini de novo kkkk) e assim chegou às 17h…
primeira vez que eu lembrei que a câmera tinha timer haha
No Lago Argentino tem flamingos! Não dá de ver na foto, mas estavam cheio deles e outros pássaros por ali 🙂
Contratei um transfer com a Vespatagonia (ARS 400 – reservei de um dia para o outro no site deles). Esperei o transfer e fui ao aeroporto.
Por falar nisso, que aeroporto! Foi a decolagem mais linda que eu já vi, o Lago Argentino tem um azul indescritível e a vista da janela encerrou minha viagem na Patagônia com chave de ouro e lágrimas nos olhos.
As meninas de Floripa tinham os voos em horários próximos aos meus, então reencontrei elas (e o Gianecchini, que aparentemente estava indo embora também). Apesar de a cia aérea ser diferente, nossa escala tinha longas horas em Buenos Aires e passamos juntas a madrugada (eu e as meninas de Floripa, o Gianecchini não hahahah). Foi ótimo estar com elas durante essas horas, acho que me ajudou a viver o fim da viagem de forma mais leve.
O meu primeiro mochilão sozinha foi uma experiência na qual não consigo colocar em palavras os sentimentos. 2019 foi de construção interna, questionamentos, inseguranças e medos, esses dias vieram para responder minhas dúvidas complexas de forma simples, me mostrar o quão forte eu sou, que não preciso de absolutamente ninguém, senão eu mesma, para realizar os meus sonhos. Eu estava de mente aberta para situações e pessoas novas, pessoas que por sinal foram incríveis e de todos os cantos do mundo, com as mais diferentes histórias.
Eu fiquei triste e feliz quando acabou, em partes por sentir saudades já de todos esses momentos, mas também por saber que voltei transformada ao Brasil, finalizando 2019 e começando 2020 de forma linda. Nunca me senti tão livre e todos esses aprendizados e crescimento irão me acompanhar ao longo da minha vida. <3
Espero que tenham gostado do meu relato super detalhado e estou sempre a disposição para ajudar e tirar dúvidas 🙂
POSTS RELACIONADOS: MEU ROTEIRO – MINHA MALA – USHUAIA – PATAGÔNIA CHILENA – TORRES DEL PAINE – EL CALAFATE – EL CHALTÉN PARTE UM
Com amor, Ana Caroline
Instagram: @anavoando (nos stories está salvo toda a viagem)